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20/07/09

HÁ 40 ANOS: PRIMEIRO HOMEM NA LUA




AINDA HÁ QUEM JULGUE QUE TUDO FOI MENTIRA
Quatro décadas depois do primeiro contacto do Homem com a poeira inerte da Lua, sondagens referem que 6 % dos ame-ricanos pensam que as alunagens não poderiam ter acontecido. A chegada à Lua, um dos maiores feitos da raça humana, foi um embuste elaborado e desenvolvi¬do para fomentar o orgulho patriótico dos EUA, insistem muitos.
Examinam as fotografias das missões, procurando sinais de falsificação e afirmam que conseguem ver a bandeira dos EUA a flutuar naquilo que era supostamente o vazio do espaço. Exageram os riscos para a saúde das viagens através das ondas de radiação que envolvem o nosso planeta; subestimam a proeza tecnológica do programa espacial americano; e denunciam como crimes todas as mortes ocorridas nesse programa, relacionando-as com uma conspiração a nível mundial.
E embora não haja provas credíveis que consubstanciem estas afirmações, e a mera improbabilidade de se conseguir inventar um enredo tão gigantesco e mantê-lo secreto durante 40 anos seja um desafio à imaginação mais delirante, os negacionistas continuaram a amontoar acusações até hoje. (…)
"Há pessoas inteligentes e perfeitamente normais que acreditam nessas teorias da conspiração", diz Philip Plait, astrónomo e autor que contesta, exaustivamente, ponto por ponto, os argumentos dos teóricos da conspiração no seu site "Bad Astronomy".
Embora as pseudoprovas dos teóricos da conspiração possam ser facilmente refutadas, diz Plait, compreender os processos pode exigir conhecimentos históricos, fotográficos e científicos e respectiva metodologia. "Dá trabalho; muito trabalho", diz ele, "e a maioria das pessoas não o faz E, assim, essas coisas criam pernas para andar".

03/07/09

O FIM DO PENSAMENTO ÚNICO

No momento em que escrevo, os portugueses dispõem de duas visões muito diferentes sobre como sair da crise em que nos encontramos. De um lado, o «manifesto dos 28» e, do outro, o «manifesto dos 52». Para o primeiro, a solução é limitar o endividamento, o que implica uma drástica redução do investimento público, fonte de muitos males, sendo os maiores o TGV, o novo aeroporto e as auto-estradas. Para o segundo, a prioridade é a promoção do emprego e a capacitação económica, o que implica um forte investimento público (não necessariamente nos projectos referidos) pois só o Estado dispõe de instrumentos para desencadear medidas que minimizem os riscos sociais e políticos da crise e preparem o país para a pós-crise.
As diferenças entre os dois documentos são, antes de tudo, «genealógicas». O primeiro é subscrito por economistas, a grande maioria dos quais ocupou cargos políticos nos últimos 15 anos, e colaborou na promoção da ortodoxia neoliberal que nos conduziu à crise. O segundo é subscrito por economistas e cientistas sociais que, ao longo dos últimos 15 anos, tomam posições públicas contra a política económica dominante e advertiram contra os riscos que decorreriam dela (...).

Mas as diferenças entre os dois documentos são mais profundas que a descrição acima sugere. Separa-os concepções distintas da economia, da sociedade e da política.
Para o manifesto dos 28, a ciência económica não é uma ciência social, é um conjunto de teorias e técnicas neutras a que os cidadãos devem obediência. Pode impor-lhes sacrifícios dolorosos - perda de emprego ou da casa, queda abrupta na pobreza, trabalho sem direitos, insegurança quanto ao futuro das pensões construídas com o seu próprio dinheiro - desde que isso contribua para garantir o bom funcionamento da economia entendida como a expansão dos mercados e a lucratividade das empresas. O Estado deve limitar-se a garantir que assim aconteça, não transformando o bem-estar social em objectivo seu (excepto em situações extremas), pois mesmo que o quisesse falharia dada a sua inerente ineficiência.
Para o manifesto dos 52, a economia está ao serviço dos cidadãos e não estes ao serviço dela. Os mercados devem ser regulados para que a criação de riqueza social se não transforme em motor de injustiça social (...). Cabe ao Estado garantir a co
esão social, accionando mecanismos de regulação e de investimento para que a competitividade económica cresça com a protecção social. Para isso, o Estado tem de ser mais democrático e a justiça mais eficaz na luta contra a corrupção.

21/06/09

ZAHI HAWASS, GUIA SUPREMO DA ARQUEOLOGIA

Porque há-de a arqueologia egípcia ser monopólio do secretário-geral do Conselho Superior de Antiguidades do Egipto, Zahi Hawass? Quer seja na rádio, na televisão ou nos jornais, tem o monopólio deste assunto e de tudo o que lhe possa estar relacionado, de perto ou de longe.
Seja a erosão da pirâmide de Saqqarah, a investigação do túmulo de Cleópatra e do seu amante Marco António, a descoberta dos despojos de um ministro de Ramsés ou a conservação dos restos de uma simples ser­va da rainha Nefertite, é Zahi Hawass que é chamado a falar. Mais ninguém (…).
É melhor do que Indiana Jones, Hércules, Super-Homem e Batman todos juntos. Não se contenta em falar em nome do Egipto, dos faraós, de reis e rainhas, está igualmente con­vencido de que detém a verdade.
A cada controvérsia, Hawass põe o seu ca­pacete de cientista - ou antes, o seu chapéu de Indiana Jones - e profere certezas abso­lutas e indiscutíveis. Raros são os jornalistas que ousam produzir uma reportagem ou um documentário sobre o assunto sem o pôr a intervir pelo menos uma vez.
Seguro de si, emite as suas «fatwas» [sen­tenças de iluminação divina] arqueológicas e varre de uma assentada os pontos de vista dos outros: «Claro que não, estão todos en­ganados!», dita. Ou em inglês: «No, theyare wrong!». Outra alternativa: «Não dizem a verdade, de maneira alguma». Enquanto ele continua «absolutamente certo»!
A sua atitude está em total contradição com espírito científico. É o contrário da modéstia que caracteriza um verdadeiro investigador, que sabe que não há verdade absoluta. Egip­tólogos do mundo inteiro - e são numerosos - nunca diriam «eu sei», antes «suponho». Não falam de «certeza», mas de «hipóteses». Esta prudência está muito mais de acordo com as ciências humanas e com o trabalho sobre objectos que têm milhares de anos. Mesmo nas ciências ditas puras, esta regra impõe-se. Não assistimos já a foguetões que explodiram em pleno voo?
IMAD ABDERRAZEQ, Courrier Internacional, Junho de 2009

19/04/09

PROBLEMA "LEGO"

Quando Jorgen Vig Knudstorp assumiu a direcção da fabricante dinamarquesa de brinquedos [Lego] em 2004, o cenário era catastrófico. As vendas caíam a olhos vistos, o custo de produção era elevado e as dívidas não paravam de aumentar. Foi neste contexto que a ReD Associates foi chamada a intervir. Composta por antropólogos, sociólogos e psicólogos, esta consultora dinamarquesa já trabalhou para empresas como a Adidas, Vodafone e Coca-Cola mas teve na Lego um dos seus maiores desafios. "A empresa tinha perdido a sua relação com as crianças", explica ao PÚBLICO Christian Madsbjerg, membro da consultora. Para perceber o que se passava, a equipa de cientistas sociais passou quatro meses a trabalhar com um grupo de 100 crianças. Falaram e brincaram com elas, acompanharam-nas na escola, estiveram em casa com a família e, no final, descobriram onde estava o problema: todas as pressuposições da Lego sobre como as crianças gostavam de brincar estavam erradas."A Lego pensava que as crianças gostavam mais de playstations, de jogos fáceis e de encontrar instantaneamente diversão nas brincadeiras", explica Christian Madsbjerg. Mas a realidade era bem diferente. "Os miúdos continuavam a gostar muito de brincadeiras físicas, de coisas difíceis e não se importavam de perder tempo a descobrir como resolver o enigma de um brinquedo", conclui. A Lego teve então de mexer nas peças do seu negócio, acabar com alguns produtos e criar outros. As crianças voltaram.

10/04/09

O SENTIDO DAS PALAVRAS

(…) as palavras da linguagem comum, tal como os conceitos que elas expri­mem, são sempre ambíguas e o seu directo emprego científico, a partir do seu uso normal, sem as submeter a nenhuma transformação, con­duziria às mais graves confusões. Não apenas o sentido dessas pala­vras está tão mal definido que varia dum caso para o outro, ao sabor das necessidades, mas ainda, visto que a classificação de que elas resultam não procede de uma análise metódica e apenas traduz as impressões confusas das pessoas, acontece permanentemente que categorias de factos muito diversos são indistintamente reunidas sob uma mesma rubrica ou que realidades da mesma natureza recebem designações muito diferentes. Se portanto se aceita a acepção vulgar, corre-se o risco de distinguir o que deve ser confundido ou de confun­dir o que deve ser distinguido, ignorando-se assim o real parentesco das coisas e, consequentemente, a respectiva natureza. Só se explica comparando. Uma investigação científica só pode, assim, atingir o seu objectivo se se refere a factos comparáveis e tem tanto mais pro­babilidades de êxito quanto mais certa esteja de reunir todos aqueles que podem ser utilmente comparados. As afinidades naturais dos seres, porém, não poderão ser detectadas com um mínimo de segu­rança através de exame superficial como aquele de que a terminolo­gia vulgar resultou; consequentemente, o objecto das pesquisas não pode ser constituído pelos grupos de factos já organizados aos quais correspondem as palavras da língua corrente.

ÉMILE DURKHEIM, O Suicídio

12/02/09

CRIACIONISMO OU EVOLUCIONISMO?

Há duzentos anos, neste dia (12 de Fevereiro) nasceu em Shrewsbury, Inglaterra, Charles Darwin. Quando, em criança, só se preocupava com a caça, os cães e os ratos, ninguém poderia prever que ele iria elaborar uma teoria revolucionária explicativa da evolução das espécies e, nomeadamente, da Origem do Homem.
Segundo essa teoria, as espécies que habitaram e habitam o nosso planeta não foram criadas independentemente, mas descendem umas das outras, ou seja, estão ligadas por laços evolutivos.
No entanto, a apesar do evolucionismo estar fundamentado em factos concretos, a sua aceitação não evoluiu muito, mesmo no país natal de Darwin – ainda hoje, muitos britânicos não acreditam nela. Lê-se no jornal Guardian que vinte e cinco por cento dos ingleses pensam que a teoria é verdadeira, outros vinte e cinco não têm a certeza. Os restantes pensam que a teoria é falsa ou sentem-se confusos.
Doze por cento dos inquiridos defendem o criacionismo – Deus criou o mundo como diz a Bíblia. Mas, diz James Williams, da Universidade de Salsbury, “o que os criacionistas fizeram foi embrulhar as suas crenças religiosas num manto de pseudociência”. Para ele, “ a evolução é uma teoria e um facto". Aceitamo-la com base em provas.
O resultado do inquérito não é nenhuma surpresa para aquele universitário porque, segundo ele, “as pessoas não percebem como funciona a ciência” e o evolucionismo está a ser “muito mal ensinado nas escolas”.


Fonte principal: Jornal Público

23/11/08

OVELHAS TOSQUIADAS


Um cientista e a mulher foram dar um passeio pelo campo.
A mulher diz:
- Oh, repara! Aquelas ovelhas foram tosquiadas.
- Sim - declara o cientista. - Deste lado.

À primeira vista, poderíamos pensar que a mulher está ape­nas a expressar uma visão de senso comum enquanto o cientista formula uma opinião mais cautelosa e científica, na medida em que se recusa a ir para além da prova dos seus sentidos. Mas esta­ríamos errados. Na verdade, foi a mulher que formulou o que a maioria dos cientistas consideraria a hipótese mais científica. Os cientistas usam as suas experiências anteriores para calcular probabilidades e para inferir afirma­ções mais genéricas. O que a mulher está, com efeito, a dizer é: "Estou a ver ovelhas tosquiadas, pelo menos deste lado. Pela experiência anterior sei que não é habitual os agricultores tosquiarem as ovelhas apenas de um lado e que, mesmo que este agricultor o tivesse feito, a probabilidade de as ovelhas se colocarem na encosta de forma a que apenas os seus lados tos­quiados ficassem voltados para a estrada é infinitesimal. Por conseguinte, sinto-me confiante ao dizer: "Aquelas ovelhas foram totalmente tosquiadas."
Presumimos que o cientista da piada é uma espécie de crâ­nio demasiado instruído. Mais tipicamente, presumimos que uma pessoa que não consegue extrapolar a partir da sua expe­riência anterior é simplesmente um imbecil.

T.Cathcart e D.Klein, Platão e um ornitorrinco entram num bar (adaptado)