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08/05/09

O ANEL DE RACHIDA

O olhar contemporâneo perdeu-se entre as armadilhas do Photoshop, uma ferramenta de tratamento digital de imagem cuja utilização desregrada está a reconfigurar a compreensão da realidade. A veracidade da fotografia – incluindo a jornalística – está em causa, depois de mais de um século de uma preguiçosa crença na imagem fotografada.
Dois dos casos mais recentes de manipulação – um mais 'dramático', o outro de cariz mais social – foram o dos mís­seis do Irão e o do anel da ministra fran­cesa da Justiça Rachida Dati. (…)
No segundo, ocorrido um mês antes [Junho passado], a ministra de Nicolas Sarkozy que serviu de símbolo para conquistar as minorias étni­cas apareceu na primeira página do "Le Figaro" mexendo na orelha com um dedo nu. O problema é que, na foto original, es­se dedo tinha um anel de diamantes avalia­do em 15.600 euros, que o jornal apagou.

Revista ÚNICA, 10-04-09

24/04/09

"CENSURICÍDIO"

Contas feitas, José Cardoso Pires chegou a um resultado tão surpreendente como inquietante. No seu livro E Agora José, publicado em 1999, o escritor contabiliza 420 anos de censura, nos cinco séculos de existência de imprensa em Portugal. E não é necessário recuar muito, no tempo, para identificarmos um dos períodos mais odiosos e obscurantistas da História portuguesa, caracterizado pela «colonização cerebral, domesticação das vontades, apartheid do conhecimento, privação do saber, mentira premeditada, terrorismo intelectual», con­forme observa o jornalista César Príncipe, no seu livro Os Segredos da Censura.
Durante os 48 anos em que se sucede­ram três ditaduras, a militar, a de Oliveira Salazar e a de Marcelo Caetano, os «coro­néis do lápis azul» - assim foram alcunha­dos os censores por, no início, terem sido chefiados por um coronel e destruírem os escritos dos jornalistas com riscos daque­la cor, antes de optarem pela caneta Bic - interpuseram-se entre os emissores das mensagens informativas e os respectivos destinatários, para alterarem, manipu­larem ou tornarem vazias de sentido as notícias que pusessem em causa o discur­so oficial. Simultaneamente, devido à sua invisibilidade, remetiam para os autores a responsabilidade dos textos que recria­vam, como nota Orlando César no artigo O Censor como Enunciador do Discurso do Regime, publicado no Notícias da Amadora, em 2001.
Nestas circunstâncias, quem conhecesse Por­tugal apenas através da leitura dos jornais acre­ditaria que vivíamos no país das maravi­lhas. É que não havia aqui prisões políticas, nem contestação do re­gime, não havia greves nem manifestações de protesto, não se traficava droga, ninguém se suicidava, nenhuma mulher se prostituía, não havia mendigos, nem bairros da lata, nem epidemias, nem delinquentes menores, nem violações, nem pedófilos, nem infanticidas, não está­vamos na cauda da Europa nos indicadores culturais, sociais e económicos, nem existia corrupção. César Príncipe comenta: «As­sim se escreve a História: a grande como a pequena. Não espanta que, só depois do 25 de Abril, certas camadas populares e peque­no-burguesas teçam pessimismos em rela­ção à liberdade. Antes ( ... ) não se assistia a esta 'pouca vergonha' de se
conhecer o que sucede.»
VISÃO, 23-04-09

27/12/08

A NOVA GERAÇÃO DE ALCOÓLICOS TEM 20, 30 ANOS

O padrão de consumo de álcool mudou: nos últimos anos começaram a chegar às consultas da especialidade doentes alcoólicos na casa dos 20 a 30 anos, quando costumavam andar pelos 40 a 50 anos.
“Agora começam a beber aos 14-15 anos mas consomem bebidas muito graduadas. O vinho perdeu popularidade nestas faixas etárias, face à cerveja e a bebidas destiladas como a vodka, o uísque ou os shots. São hábitos de consumo cujo objectivo é «a alteração de consciência»", refere Célia Franco, médica responsável pelo serviço de adições do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Coimbra.
"Não tem graça sair sem beber", ouve a médica Fátima Ismail da boca de alguns jovens. "Se eu não beber sou o único que está sério. Fico à parte do grupo."
Vodka com chá verde, licor com frutas antioxidantes, embalagens 100 por cento recicláveis e rótulos de papel de comércio justo. As estratégias de marketing de bebidas alcoólicas têm um objectivo primordial: associarem-se a estilos de vida saudáveis e preocupações ambientais, diz o European Centre for Monitoring Alcohol Marketing. Cerveja rosé ou com sabor a maçã, embalagens com uma pequena pega que imita uma malinha de mão de senhora, são algumas das novidades nesta área que pretendem apelar ao sexo feminino, diz o EUCAM.
Há algumas décadas havia uma clara distinção entre hábitos de consumo de álcool nos países do Norte e do Sul da Europa: nos primeiros bebia-se sobretudo ao fim-de-semana e em grandes quantidades; nos países mediterrânicos, o consumo era mais centrado no vinho e era feito socialmente às refeições. Hoje, entre os jovens, estas diferenças já quase não se notam, explica ao PÚBLICO Ruth Ruiz, membro da European Alcohol Policy Alliance . Hoje pode falar-se daquilo que Ruth Ruiz designa como "uma globalização das tendências na bebida". Os jovens bebem da mesma forma na Dinamarca e no Reino Unido, em Espanha ou na Itália.
CATARINA GOMES, Público, 21.12.2008 (adaptado)