Mostrar mensagens com a etiqueta técnica de investigação. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta técnica de investigação. Mostrar todas as mensagens

02/05/09

FAZER FALAR

Imagine-se um certo número de caixas, tipo caixas de sapatos, dentro das quais são distribuídos objectos, como por exemplo aqueles, aparentemente heteróclitos, que se­riam obtidos se se pedisse aos passageiros de uma com­posição de metro, que esvaziassem as malas de mão. A técnica consiste em classificar os diferentes elementos nas diversas gavetas segundo critérios susceptíveis de fazer surgir um sentido capaz de introduzir numa certa ordem na confusão inicial. É evidente que tudo depende, no momento da escolha, dos critérios de classificação, da­quilo que se procura ou que se espera encontrar.
O exemplo escolhido (objectos contidos nas malas das senhoras) pode parecer metafórico: estes objectos não constituem uma verdadeira comunicação, na medida em que não correspondem a um conjunto de significações voluntariamente codificadas pelo emissor; estes são índi­ces. Contudo, in extremis, o analista semiólogo pode con­siderá-los como sendo uma mensagem e submetê-los à aná­lise de conteúdo para os fazer falar. Como proceder então e segundo que objectivo? Uma repartição seguida de um desconto de frequências de cada «gaveta», pode ser rea­lizado segundo o critério do valor mercantil de cada objecto; caixa de pó de arroz, maço de cigarros, caneta, etc., serão divididos segundo o preço estimado para cada um deles. A classificação pode ainda ser feita tendo por critério a função dos objectos: objectos de maquilhagem, dinheiro ou seus substitutos, etc. A finalidade desta clas­sificação é deduzir daí certos dados, que dizem, por exem­plo, respeito à situação sociocultural das senhoras obser­vadas, em determinada hora, ou em determinado local de utilização do metropolitano.
(…) Este exemplo não está, assim, tão distante da realidade como pode parecer, uma vez que ainda há pouco tempo, os sociólogos planearam realizar uma análise de conteúdo dos caixotes de lixo. Esta análise pode, efectivamente, ensi­nar-nos muito sobre o comportamento dos habitantes de um determinado bairro, sobre o seu nível socioeconómico, as modalidades de desperdício numa sociedade de abundân­cia, ou sobre a evolução dos hábitos de consumo num pe­ríodo de crise, por exemplo.

19/04/09

PROBLEMA "LEGO"

Quando Jorgen Vig Knudstorp assumiu a direcção da fabricante dinamarquesa de brinquedos [Lego] em 2004, o cenário era catastrófico. As vendas caíam a olhos vistos, o custo de produção era elevado e as dívidas não paravam de aumentar. Foi neste contexto que a ReD Associates foi chamada a intervir. Composta por antropólogos, sociólogos e psicólogos, esta consultora dinamarquesa já trabalhou para empresas como a Adidas, Vodafone e Coca-Cola mas teve na Lego um dos seus maiores desafios. "A empresa tinha perdido a sua relação com as crianças", explica ao PÚBLICO Christian Madsbjerg, membro da consultora. Para perceber o que se passava, a equipa de cientistas sociais passou quatro meses a trabalhar com um grupo de 100 crianças. Falaram e brincaram com elas, acompanharam-nas na escola, estiveram em casa com a família e, no final, descobriram onde estava o problema: todas as pressuposições da Lego sobre como as crianças gostavam de brincar estavam erradas."A Lego pensava que as crianças gostavam mais de playstations, de jogos fáceis e de encontrar instantaneamente diversão nas brincadeiras", explica Christian Madsbjerg. Mas a realidade era bem diferente. "Os miúdos continuavam a gostar muito de brincadeiras físicas, de coisas difíceis e não se importavam de perder tempo a descobrir como resolver o enigma de um brinquedo", conclui. A Lego teve então de mexer nas peças do seu negócio, acabar com alguns produtos e criar outros. As crianças voltaram.