Mostrar mensagens com a etiqueta Socialização. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Socialização. Mostrar todas as mensagens

07/03/09

ADOLESCENTES VICIADOS EM SMS

“Não conseguia”. É assim que Leonor Silva, 18 anos e utilizadora de telemóvel desde os 14, descreve como seria o cenário de 24 horas sem o aparelho.
Leonor não está isolada no que diz respeito ao “vício” dos SMS. Em Maio de 2007, Pedro Quelhas Brito, um professor da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, juntou 207 voluntários de quatro escolas desta cidade, dividiu-os em dois grupos, pré-adolescentes de 11 e 12 anos e adolescentes de 15 e 16 anos e concluiu que os primeiros enviavam uma média de 84,2 SMS por semana e os segundos, 235,6. Ao final do mês, os mais velhos remetiam assim cerca de mil mensagens.
“Entre as várias justificações, disseram-me que o fazem porque é mais barato, rápido, impessoal e podem escrever com uma terminologia que entendem. Um ou outro responderam que era útil para ‘bullying’”, recorda ao METRO. “É discreto e podem controlar o momento em que enviam e respondem às mensagens”, diz. Esta dependência dos SMS é potenciada pelos tarifários das operadoras, que oferecem mensagens escritas de borla. Uma rapariga norte-americana de 13 anos no último mês, enviou 14 258 mensagens de texto. Quando o pai da jovem abriu a factura mensal, de 440 páginas e no valor de dois mil dólares, pensou que se tratasse de um engano da operadora. Não era. Pegou numa calculadora e descobriu que, descontando as horas de sono, a sua filha, Reina, tinha escrito, em média, um SMS a cada dois minutos.
Na opinião a psicóloga Teresa Paula Marques, “tudo o que é excessivo cai no campo do patológico e a dependência dos SMS não foge a essa regra”. “Se o jovem passa a privilegiar o seu uso em detrimento dos contactos pessoais, acaba por não aprender a dar-se com os outros”, defende. Também para a psicóloga Susana Gonçalves, este comportamento, que se pode tornar “compulsivo”, é preocupante. Nas suas consultas, depara-se com pais apreensivos por verem os filhos quase sempre agarrados aos telemóveis. E também com casos de jovens em que o vício interfere nos estudos. “Há crianças que não dormem sem o telemóvel ao lado, e se se esquecem dele, é um drama”.
E porque o excesso de comunicação via SMS — ou Messenger, frisa a psicóloga — pode promover o isolamento dos adolescentes e minar o desempenho escolar, Susana Gonçalves aconselha os pais a “passarem tempo de qualidade com os filhos e a aprenderem a comunicar”.
ANDRÉ BARBOSA, Metro, 14-01-09 (adaptado)

07/02/09

UM QI ACIMA DE 120 NÃO TEM VANTAGEM

O jornalista Malcolm Gladwell, que chegou a ser campeão de 1500 metros de atletismo, é considerado uma das 100 pessoas mais influentes do mundo, cobra 40 mil euros por conferência e lançou o seu livro: Outliers – a História do Sucesso. Mas se quer continuar a acreditar no mito do self-made man, que nasce pobre, trabalha horas a fio e, sem qualquer ajuda transforma-se num homem de sucesso, então é melhor não o ler. “Este tipo de explicações para o sucesso não funciona. As pessoas não se erguem do nada. O que verdadeiramente distingue as suas histórias não é um talento extraordinário, mas as extraordinárias oportunidades que tiveram”, defende.
Einstein tinha um quociente de inteligência (QI) de 150. Chris Langan, que ficou conhecido como o americano com um QI mais elevado, chegou aos 195: começou a falar aos seis meses e a ler aos 3 anos, aos 5 questionava a existência de Deus e, na escola, tirava notas elevadas em testes de línguas estrangeiras que não conhecia - só precisava de estudar três minutos antes. Mas não foi lon­ge: perdeu uma bolsa de estudo, desistiu da faculdade e foi porteiro grande parte da vida. Para Gladwell, isto significa que um Q1 supe­rior a 120 não tem vantagens na vida real.
Fundamental é o conceito de "inteligência prática": "Saber o que dizer a quem, saber quando dizê-lo e saber como dizê-lo para ob­ter o máximo efeito". Esta capacidade depen­de, sobretudo, da família em que nascemos. Para Gladwell, as crianças de classe média e alta estão em vantagem: são expostas a mais experiências, aprendem a trabalhar em equipa e a interagir de maneira mais confortável com os adultos - Chris Langan cresceu numa fa­mília pobre, com um padrasto alcoólico.
ANA TABORDA, Sábado, 27-11-08 (adaptado)

09/11/08

OS PERIGOS DA TV NO BERÇO

Cresce a controvérsia em redor dos novos canais televisivos destinados a crianças dos 6 meses aos 3 anos. Especialistas fazem o ponto da situação e aconselham prudência em relação aos programas que supostamente desenvolvem a atenção dos mais pequenos.
É difícil, para um adulto, apreciar este universo doce, cheio de bichos garridos, onde soam guizos e realejos. Espanta-nos o grande número de emissões sem palavras nem frases, apenas pontuadas por «buuuu» e «iupiii». É mesmo necessário falar sem nexo com os bebés?
Outros programas propõem-se ensinar palavras, reconhecer animais, contar, brincar. Mas brincar, como aprender, implica trocas, contacto. A maioria destas séries educativas pressupõe pais presentes que estimulam os bebés e os ajudam a entender. O que acontece quando nenhum adulto está com eles? Pois, as crianças ficam empantur­radas em imagens.
A formação da inteligência, nesta idade em que o cérebro se organiza, estrutura e forma categorias, exige actividade física. Dos 6 meses aos 3 anos, é a idade da atenção ao real próximo, da exploração do mundo, da aquisição da linguagem e dos primeiros gestos operacionais. Não iremos fabricar «bebés-zombies»?
Outro argumento resulta de estudos que demonstram que os mais pe­quenos só desenvolvem a capacidade de dis­cernimento e a compreensão quando têm oportunidade de «agir sobre a realidade», manipular, tocar, provar, experimentar. Faz-lhes falta encontrar resistência, sentir prazer, dor, malogros, êxitos. Instalá-los muito tempo diante de um ecrã reduz «o sentimento de poder agir», correndo-se o risco «de os enquistar num estatuto de espectador do mundo» antes mesmo de se tornar seu actor - e sem estar a ser intelectualmente preparado para o confronto com a realidade.
Poderão existir seis perigos essenciais as­sociados aos canais para bebés: criação de dependência, travão ao desenvolvimento intelectual e emocional, isolamento afectivo, disfunções da linguagem, perturbações da concentração. O psiquiatra Serge Tisseron leva mais longe esta crítica, e a sua inquietação podia resumir-se assim: nada temos contra o vinho; mas dávamos um copo de tinto a um bebé? Expô-lo, tão jovem, ao fluxo constante de um televisor, sem que possa escapar-lhe, é correr o risco de lhe alterar o cérebro. «É preciso ver as crianças pequenas diante da TV. São atraídas pelas imagens, as músicas, os gritos. Esticam os braços, tentam tocar no ecrã, seguram-se com força, para tentarem apanhar qualquer coisa. Procuram o contacto, a realidade... Os ecrãs frustram-nas. As fieiras de bolas ou um jogo de construção dão-lhes mais prazer. Podem agarrar, apalpar. É mais lúdico, mais estruturante para o espírito.»
F.Joignot, L Monde (Paris), 12-07-08 (adaptado)