27/12/08

A NOVA GERAÇÃO DE ALCOÓLICOS TEM 20, 30 ANOS

O padrão de consumo de álcool mudou: nos últimos anos começaram a chegar às consultas da especialidade doentes alcoólicos na casa dos 20 a 30 anos, quando costumavam andar pelos 40 a 50 anos.
“Agora começam a beber aos 14-15 anos mas consomem bebidas muito graduadas. O vinho perdeu popularidade nestas faixas etárias, face à cerveja e a bebidas destiladas como a vodka, o uísque ou os shots. São hábitos de consumo cujo objectivo é «a alteração de consciência»", refere Célia Franco, médica responsável pelo serviço de adições do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Coimbra.
"Não tem graça sair sem beber", ouve a médica Fátima Ismail da boca de alguns jovens. "Se eu não beber sou o único que está sério. Fico à parte do grupo."
Vodka com chá verde, licor com frutas antioxidantes, embalagens 100 por cento recicláveis e rótulos de papel de comércio justo. As estratégias de marketing de bebidas alcoólicas têm um objectivo primordial: associarem-se a estilos de vida saudáveis e preocupações ambientais, diz o European Centre for Monitoring Alcohol Marketing. Cerveja rosé ou com sabor a maçã, embalagens com uma pequena pega que imita uma malinha de mão de senhora, são algumas das novidades nesta área que pretendem apelar ao sexo feminino, diz o EUCAM.
Há algumas décadas havia uma clara distinção entre hábitos de consumo de álcool nos países do Norte e do Sul da Europa: nos primeiros bebia-se sobretudo ao fim-de-semana e em grandes quantidades; nos países mediterrânicos, o consumo era mais centrado no vinho e era feito socialmente às refeições. Hoje, entre os jovens, estas diferenças já quase não se notam, explica ao PÚBLICO Ruth Ruiz, membro da European Alcohol Policy Alliance . Hoje pode falar-se daquilo que Ruth Ruiz designa como "uma globalização das tendências na bebida". Os jovens bebem da mesma forma na Dinamarca e no Reino Unido, em Espanha ou na Itália.
CATARINA GOMES, Público, 21.12.2008 (adaptado)

29/11/08

ENTRE MARIDO E MULHER...

Em Portugal, o número de mulheres assassinadas duplicou face a 2007. Este ano, que ainda não terminou, 44 mulheres morreram vítimas de violência doméstica. Espanha, com uma população quatro vezes superior, o país cujos habitantes são, segundo o estereótipo, mais agressivos, registou apenas cerca de mais uma dezena de casos. Por cá, todas as semanas, uma mulher é assassinada pelo marido, namorado, companheiro ou ex-qualquer coisa. A este número acrescem mais de 60 tentativas de homicídio. Geralmente perpetradas com armas de fogo, ferramentas. ou armas brancas. E envenenamento.
Porque muitas mulheres ainda não pedem socorro? Receiam as consequências. Outras nem sequer têm consciência de que são vítimas de um crime e resignam-se. E quantas vezes não lemos nos jornais, que os vizinhos «até sabiam», mas nada fizeram?
A violência contra a mulher ainda goza de cumplicidade e impunidade da sociedade porque as mulheres são vítimas de uma violência secular e a visão patriarcal de que a mulher deve ser subalterna ainda domina. É verdade que, sobretudo depois dos anos 60, estas questões deixaram a esfera privada e passaram à esfera pública, passando a ser encaradas como um problema político e de direitos humanos. No entanto, porque estes comportamentos foram, durante milénios, encarados como aceitáveis ou até desejáveis, muito há ainda por fazer.
Pois é. O dito «entre marido e mu­lher não se mete a colher» ainda vin­ga na polícia, na justiça e na polícia. Este ano, em sete distritos não se verificou uma única detenção de agressores. E, no nosso país, só um homem se encontra a cumprir pena de prisão por violência doméstica. Um apenas. Os brandos costumes existem, sim. Estão é do lado errado.

JOANA AMARAL DIAS, in Sexta 28-11-2008 (adaptado)

23/11/08

OVELHAS TOSQUIADAS


Um cientista e a mulher foram dar um passeio pelo campo.
A mulher diz:
- Oh, repara! Aquelas ovelhas foram tosquiadas.
- Sim - declara o cientista. - Deste lado.

À primeira vista, poderíamos pensar que a mulher está ape­nas a expressar uma visão de senso comum enquanto o cientista formula uma opinião mais cautelosa e científica, na medida em que se recusa a ir para além da prova dos seus sentidos. Mas esta­ríamos errados. Na verdade, foi a mulher que formulou o que a maioria dos cientistas consideraria a hipótese mais científica. Os cientistas usam as suas experiências anteriores para calcular probabilidades e para inferir afirma­ções mais genéricas. O que a mulher está, com efeito, a dizer é: "Estou a ver ovelhas tosquiadas, pelo menos deste lado. Pela experiência anterior sei que não é habitual os agricultores tosquiarem as ovelhas apenas de um lado e que, mesmo que este agricultor o tivesse feito, a probabilidade de as ovelhas se colocarem na encosta de forma a que apenas os seus lados tos­quiados ficassem voltados para a estrada é infinitesimal. Por conseguinte, sinto-me confiante ao dizer: "Aquelas ovelhas foram totalmente tosquiadas."
Presumimos que o cientista da piada é uma espécie de crâ­nio demasiado instruído. Mais tipicamente, presumimos que uma pessoa que não consegue extrapolar a partir da sua expe­riência anterior é simplesmente um imbecil.

T.Cathcart e D.Klein, Platão e um ornitorrinco entram num bar (adaptado)

15/11/08

NOJOOD, 10 ANOS, DIVORCIOU-SE E AGORA É "WOMAN OF THE YEAR 2008"


A revista Glamour descreveu-a como "a mais célebre divorciada" do mundo, mas não foi por isso que a distinguiu, esta semana, como uma das dez Women of the Year 2008. Nojood Mohammed Ali, de dez anos, viajou de Sanaa, capital do Iémen, até Nova Iorque, para partilhar o prémio com Hillary Clinton, Condoleezza Rice ou Nicole Kidman por ter aberto o caminho às meninas que querem libertar-se de casamentos forçados. (…)O drama de Nojood começou quando o pai, um desempregado que antes recolhia lixo nas ruas, quebrou a promessa de não a retirar da escola para lhe arranjar um marido, como fez a outras irmãs.

Ela frequentava a segunda classe e adorava estudar Matemática e o Corão. Ele foi buscá-la para a entregar a um homem de 30 anos, o carteiro Faiz Ali Thamer. No dia do casamento, confiante num alegado compromisso de que a união não seria consumada antes de ela "ser adulta", a menina ficou fascinada com o dote: três vestidos, um perfume, duas escovas do cabelo, dois hijab (véu islâmico) e um anel cujo preço equivalia a 20 dólares. Este foi logo vendido por Thamer, que comprou roupas para si. A partir dali, a vida da recém-casada só piorou. "Eu corria de sala em sala para tentar fugir, mas ele acabava sempre por me apanhar", revelou Nojood ao jornal Yemen Times. "Chorei tanto, mas ninguém me ouvia. Sempre que eu queria brincar no pátio, ele vinha, batia-me e obrigava-me a ir para o quarto com ele. E se seu pedia misericórdia ainda batia e abusava mais de mim. Eu só queria ter uma vida respeitável. Um dia fugi."Nojood apanhou primeiro um autocarro e depois um táxi e foi até a um tribunal de Sanaa. Ela era tão pequenina, que quase passou despercebida aos magistrados, aos advogados e a outros funcionários. À hora de almoço, quando a multidão se dispersava, relatou o diário Los Angeles. Times, "um juiz curioso aproximou-se dela e perguntou-lhe o que fazia sentada num dos bancos". A resposta foi: "Eu vim pedir o divórcio." Mohammed al-Qadhi, o juiz, ficou comovido.
No Iémen, segundo um estudo da Universidade de Sanaa, cerca de 52 por cento das raparigas são forçadas a casar-se antes dos 18 anos. "O exemplo de Nojood vai aumentar a pressão para que se defina uma idade mínima para casar", diz ao PÚBLICO, por telefone, Mohammed al-Kibsi, do jornal Yemen Observer. "Os islamistas do Comité da Sharia [lei corânica] recusam impor limites, mas há um grande movimento da sociedade civil para que o Parlamento aprove este mês uma lei que imponha os 18 anos como idade mínima. Vai haver compromisso, para os 16 anos."
MARGARIDA SANTOS LOPES, Público, 14.11.2008 (adaptado)

09/11/08

OS PERIGOS DA TV NO BERÇO

Cresce a controvérsia em redor dos novos canais televisivos destinados a crianças dos 6 meses aos 3 anos. Especialistas fazem o ponto da situação e aconselham prudência em relação aos programas que supostamente desenvolvem a atenção dos mais pequenos.
É difícil, para um adulto, apreciar este universo doce, cheio de bichos garridos, onde soam guizos e realejos. Espanta-nos o grande número de emissões sem palavras nem frases, apenas pontuadas por «buuuu» e «iupiii». É mesmo necessário falar sem nexo com os bebés?
Outros programas propõem-se ensinar palavras, reconhecer animais, contar, brincar. Mas brincar, como aprender, implica trocas, contacto. A maioria destas séries educativas pressupõe pais presentes que estimulam os bebés e os ajudam a entender. O que acontece quando nenhum adulto está com eles? Pois, as crianças ficam empantur­radas em imagens.
A formação da inteligência, nesta idade em que o cérebro se organiza, estrutura e forma categorias, exige actividade física. Dos 6 meses aos 3 anos, é a idade da atenção ao real próximo, da exploração do mundo, da aquisição da linguagem e dos primeiros gestos operacionais. Não iremos fabricar «bebés-zombies»?
Outro argumento resulta de estudos que demonstram que os mais pe­quenos só desenvolvem a capacidade de dis­cernimento e a compreensão quando têm oportunidade de «agir sobre a realidade», manipular, tocar, provar, experimentar. Faz-lhes falta encontrar resistência, sentir prazer, dor, malogros, êxitos. Instalá-los muito tempo diante de um ecrã reduz «o sentimento de poder agir», correndo-se o risco «de os enquistar num estatuto de espectador do mundo» antes mesmo de se tornar seu actor - e sem estar a ser intelectualmente preparado para o confronto com a realidade.
Poderão existir seis perigos essenciais as­sociados aos canais para bebés: criação de dependência, travão ao desenvolvimento intelectual e emocional, isolamento afectivo, disfunções da linguagem, perturbações da concentração. O psiquiatra Serge Tisseron leva mais longe esta crítica, e a sua inquietação podia resumir-se assim: nada temos contra o vinho; mas dávamos um copo de tinto a um bebé? Expô-lo, tão jovem, ao fluxo constante de um televisor, sem que possa escapar-lhe, é correr o risco de lhe alterar o cérebro. «É preciso ver as crianças pequenas diante da TV. São atraídas pelas imagens, as músicas, os gritos. Esticam os braços, tentam tocar no ecrã, seguram-se com força, para tentarem apanhar qualquer coisa. Procuram o contacto, a realidade... Os ecrãs frustram-nas. As fieiras de bolas ou um jogo de construção dão-lhes mais prazer. Podem agarrar, apalpar. É mais lúdico, mais estruturante para o espírito.»
F.Joignot, L Monde (Paris), 12-07-08 (adaptado)

31/10/08

MONITORIZAR A GRIPE COM A PATICIPAÇÃO DE TODOS

"A ideia de monitorizar a epidemia sazonal de gripe, utilizando a Internet e com base na participação voluntária dos cidadãos, nasceu na Holanda, em 2003. Rapidamente constitui-se num caso de sucesso de comunicação de ciência e de promoção da saúde. O projecto holandês, entretanto alargado à Bélgica que fala flamengo, motivou investigadores do Instituto Gulbenkian de Ciência a encetar uma colaboração internacional que veio dar lugar, em 2005, ao Gripenet português.
Acompanhando a actividade esperada da gripe, o Gripenet recolhe dados de Novembro a Maio. É com base nesses dados, recolhidos em questionários on-line, que é feita a monitorização da epidemia sazonal. Contudo, o site de suporte ao projecto está activo durante todo o ano, de forma a fornecer informação sobre a doença e as temáticas com ela envolvidas. O site www.gripenet.pt é o maior repositório de conteúdos on-line em língua portuguesa sobre a gripe.
Todos podem participar na monitorização Gripenet. Basta residirem território nacional e possuir endereço de correio electrónico. (para se registar aqui no site da
gripenet)
Depois de se registarem no site, os participantes recebem semanalmente uma newsletter com curiosidades e notícias sobre a gripe e são convidados a preencher, em alguns segundos, um pequeno questionário sobre os sintomas gripais (ou ausência deles) da semana anterior. A recolha de dados tem por objectivo monitorizar, em tempo real, a evolução da epidemia.
Desta forma, qualquer cidadão pode contribuir com informação pertinente para o desenvolvimento de modelos epidemiológicos sobre a gripe.
Esta informação não concorre com a que é obtida pelos métodos de vigilância das entidades de saúde, a cargo do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge. Tratam-se de metodologias e amostras diferentes, susceptíveis, isso sim, de se complementarem, para um melhor retrato da gripe em Portugal. Por isso, desde a primeira hora, o Gripenet tem contado com a colaboração daquele Instituto e da Direcção-Geral de Saúde.
Os dados são analisados por investigadores do IGC e a informação fica disponibilizada no site (curvas de incidência, projecção geo-referenciada em mapas de diferentes escalas, bases de dados para fins de investigação, etc.) Este trabalho é acompanhado pelo desenvolvimento de modelos matemáticos e plataformas computacionais com capacidade para simular a propagação da gripe em Portugal e avaliar cenários de intervenção.

O projecto Gripenet é financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian e pelo mecenato científico. Participa activamente na construção de uma rede europeia de monitorização da gripe através da Internet."

Apresentação da gripnet

26/10/08

VÉNUS E MARTE (Sandro Botticelli)

A deusa do amor, Vénus, venceu Marte, o deus da guerra e da violência: enquanto ele está mergulhado num sono profundo, ela observa-o com atenção e segurança para o manter sob controlo.
Se procurarmos o significado profundo da imagem, parece que o seu autor, Sandro Botticelli (1445-1510), quis representar a ideia do amor que havia sido desenvolvida na corte dos Médicis pelo filósofo Marsílio Ficino e que concebia esse amor como uma dualidade composta por um desejo físico terreno e por uma aspiração espiritual que tendia para Deus. Ficino descrevia a diligência humana como o esforço constante para passar da paixão sensual ao desejo espiritualizado do conhecimento e de luz na união com Deus.
O quadro ilustra o triunfo da deusa do amor sobre o deus da guerra, que ela desviou dos seus afazeres bélicos. Mas não se trata tanto da vitória do amor sobre a violência guerreira, como a derrota do desejo sensual perante um amor de Deus guiado pelo desejo de saber. Marte simboliza aqui, enquanto deus da guerra, o desejo violento. Contrariamente a Vénus, ele surge representado quase nú. Em Vénus, pelo contrário, esta aspiração sensual foi superada. Ela está vestida com um peplo debruado e preso no peito por uma jóia composta por pérolas, onde se deve ler o símbolo da castidade.
BARBARA DEIMLING, Botticelli, Editora Taschen (adaptado)

22/10/08

SOBRE MACACOS E BANANAS

Suponhamos que temos seis macacos numa sala. Do tecto pende um cacho de bananas. Mesmo por baixo encontra-se um escadote (como o de um pintor ou carpinteiro). Não é preciso passar muito tempo até que um dos macacos suba o escadote para alcançar as bananas.
E assim se inicia a experiência: no preciso momento em que toca no escadote, todos os macacos são molhados com água gelada. Como é natural, isso detém o macaco. Passado um bocado, o mesmo macaco, ou algum dos outros, faz nova tentativa com o mesmo resultado: todos os macacos apanham com a água gelada assim que um deles toque no escadote. Quando este
processo se repete mais um par de vezes, os macacos já estão prevenidos. Mal algum deles pretende tentar, os outros tratam de evitar que o faça, detendo-o com pancada se necessário.
Uma vez chegados a este estádio, retiramos um dos macacos da divisão e substituímo-lo por um novo (que obviamente não participou na experiência até aí). O novo macaco vê as bananas e trata imediatamente de subir pelo escadote. Para seu horror, todos os outros macacos o atacam. E claro que o impedem. Depois de mais um par de tentativas, o novo macaco já aprendeu: se tenta subir pelo escadote, vão agredi-lo sem piedade.
O procedimento é de seguida repetido: retira-se um segundo macaco e introduz-se outro novo. O recém-chegado encaminha-se para o escadote e o processo repete-se: mal lhe toca (no escadote), é massivamente atacado. E não é só isso: o macaco que tinha entrado imediatmente antes dele ( e que nunca passara pela experiência da água gelada!) participa no episódio de violência com grande entusiasmo. Um terceiro macaco é substituído e mal tenta subir o escadote, os outros agridem-no. Todavia, dois dos macacos que lhe batem não fazem ideia do motivo porque não se pode subir o escadote. Substitui-se um querto macaco, depois o quinto e, por fim, o sexto que nesta altura era o único que restava do grupo original. Ao tirar-se este de lá, não resta nenhum que tenha sofrido o banho de água gelada. No entanto, tendo o último tentado subir um par de vezes e sendo furiosamente golpeado pelos outros cinco, fica estabelecida a regra: Não se pode subir o escadote. Quem o fizer expõe-se a uma repressão brutal. Só que agora nenhum dos seis tem argumentos para justificar tal barbaridade.
Qualquer semelhança com a realidade dos seres humano não é pura coincidência nem fruto do acaso. É que somos mesmo assim: como os macacos

17/10/08

NO SUBCONSCIENTE, OS AMERICANOS VÊEM OBAMA COMO ESTRANGEIRO?

O preconceito é subtil, mas estudos mostram que americanos brancos demoram a identificar americanos negros ou asiáticos com símbolos do país
Há alguns anos, os psicólogos Mahzarin Banaji e Thierry Devos mostraram os nomes de celebridades a um grupo de voluntários, pedindo-lhes que as classificassem como americanos ou não americanos. A lista incluía a jornalista televisiva Connie Chung ou a estrela do ténis Michael Chang, ambos americanos de origem asiática, bem como os actores britânicos Hugh Grant e Elizabeth Hurley. Os voluntários identificaram naturalmente os primeiros como norte-americanos e os segundos como estrangeiros.
Os psicólogos perguntaram depois ao grupo que nomes associava a ícones americanos como a bandeira, o Capitólio ou o Monte Rushmore, e quais associava a símbolos estrangeiros: o edifício da ONU em Genebra, uma nota de 100 hrivnis da Ucrânia e um mapa do Luxemburgo. E descobriram que, se tivessem de responder depressa, os voluntários associavam muito mais facilmente os símbolos americanos aos actores britânicos e os estrangeiros a Chung ou Chang.
Os resultados sugerem que, a um nível subconsciente, as pessoas equiparavam os brancos - mesmo os estrangeiros - com símbolos americanos.
Noutra experiência envolvendo atletas negros nos Jogos Olímpicos de Sydney, os psicólogos verificaram que o mesmo padrão se aplicava aos afro-americanos.
Os voluntários brancos concordavam que os saltadores Allen Johnson e Angelo Taylor, que ganharam medalhas de ouro, "contribuíram para a glória da América" e "representam tudo o que a América é". Mas foram lentos a associar as suas fotografias a símbolos americanos. Os voluntários negros foram mais rápidos a associar atletas negras ou brancos a símbolos americanos.
"Isto é poderoso porque mostra que as nossas mentes também distorcem os factos, além das preferências", diz Banaji, que trabalha em Harvard. "Os afro-americanos consideram-se americanos, mas isso não é assim nas mentes de todos os brancos."
As experiências (baseadas em testes disponíveis em implicit.harvard.edu) provocaram controvérsia. Pode ser um embaraço para as pessoas saber que subconscientemente associam ser americano com ser branco, mas isso importa? Importa e muito - por exemplo, no comportamento eleitoral, dizem os investigadores.
Numa série de novas experiências, Devos mostrou que o preconceito "branco equivale a americano" pode ter um papel fundamental nas presidenciais (Banaji é democrata registada; Devos não é americano).
Durante as primárias, Devos, na Universidade de San Diego, e Debbie Ma, da Universidade de Chicago, descobriram que, ao nível subconsciente, as pessoas associavam mais facilmente Hillary Clinton com "ser americana" do que Barack Obama.
Mais surpreendente, os psicólogos descobriram que os voluntários eram mais rápidos a associar o antigo primeiro-ministro britânico Tony Blair com ser americano do que Obama.
A um nível consciente, os participantes não tiveram problemas em identificar Obama e Clinton como americanos e Blair como estrangeiro. Mas as associações subconscientes eram importantes: quem demorava mais tempo a ver Obama como americano a um nível subconsciente tinha menos probabilidades de pensar votar nele do que os que o associavam facilmente com símbolos americanos.
E num último conjunto de experiências, que acabou na semana passada, os investigadores dizem ter encontrado um padrão idêntico quando comparavam as associações subconscientes sobre Obama e o seu rival, John McCain
Conscientemente, os voluntários diziam que ambos são americanos, mas num nível subconsciente eram mais rápidos a associar McCain com ser americano do que Obama - e a força destas associações reflectia-se nas predisposições de voto. "Quando menos viam Obama como americano comparado com McCain, menos provável era que votassem nele", explica Devos. O preconceito era subtil - e apenas um entre muitos factores pesados nas escolhas de voto - mas também conta.


SHANKAR VEDANTAM , Público, 16.10.2008