21/02/09

IDEOLOGIAS

Raikes abanou a cabeça.
- Desculpe - disse ele - mas não acredito em si. É o de­tective privado do Blunt, sim senhor. - A sua expressão carre­gou-se quando ele se debruçou sobre a mesa. - Mas não conse­gue salvá-lo, sabe? Ele tem de marchar. .. ele é tudo o que ele representa! Tem de surgir uma nova ordem ... o velho e corrup­to sistema financeiro tem de desaparecer... esta maldita rede de banqueiros por todo o mundo, como uma teia de aranha. Têm de ser varridos do mapa. Pessoalmente não tenho nada contra o Blunt ... mas é o género de homem que odeio. É medíocre ... é presunçoso. É do tipo que só se consegue mover usando dinami­te. É o tipo de homem que diz: «Não se pode abalar os alicerces da civilização.» Mas não pode? Ele que espere e veja. É um obs­táculo ao Progresso e tem de ser afastado. No mundo de hoje não há lugar para homens como o Blunt ... homens que vivem pre­sos ao passado ... homens que querem viver como os pais deles, ou até como os avós! Não faltam homens assim aqui em Inglater­ra ... a velha guarda cheia de mofo ... símbolos inúteis e gastos de uma era em decadência. E têm de marchar, se têm! É preciso que nasça um mundo novo. Está a entender. .. um mundo novo, compreende?
Poirot suspirou e levantou-se.
- Vejo que é um idealista, Mr. Raikes - observou.
- E se for?
AGATHA CHRISTIE, O Enigma do Sapato

12/02/09

CRIACIONISMO OU EVOLUCIONISMO?

Há duzentos anos, neste dia (12 de Fevereiro) nasceu em Shrewsbury, Inglaterra, Charles Darwin. Quando, em criança, só se preocupava com a caça, os cães e os ratos, ninguém poderia prever que ele iria elaborar uma teoria revolucionária explicativa da evolução das espécies e, nomeadamente, da Origem do Homem.
Segundo essa teoria, as espécies que habitaram e habitam o nosso planeta não foram criadas independentemente, mas descendem umas das outras, ou seja, estão ligadas por laços evolutivos.
No entanto, a apesar do evolucionismo estar fundamentado em factos concretos, a sua aceitação não evoluiu muito, mesmo no país natal de Darwin – ainda hoje, muitos britânicos não acreditam nela. Lê-se no jornal Guardian que vinte e cinco por cento dos ingleses pensam que a teoria é verdadeira, outros vinte e cinco não têm a certeza. Os restantes pensam que a teoria é falsa ou sentem-se confusos.
Doze por cento dos inquiridos defendem o criacionismo – Deus criou o mundo como diz a Bíblia. Mas, diz James Williams, da Universidade de Salsbury, “o que os criacionistas fizeram foi embrulhar as suas crenças religiosas num manto de pseudociência”. Para ele, “ a evolução é uma teoria e um facto". Aceitamo-la com base em provas.
O resultado do inquérito não é nenhuma surpresa para aquele universitário porque, segundo ele, “as pessoas não percebem como funciona a ciência” e o evolucionismo está a ser “muito mal ensinado nas escolas”.


Fonte principal: Jornal Público

07/02/09

UM QI ACIMA DE 120 NÃO TEM VANTAGEM

O jornalista Malcolm Gladwell, que chegou a ser campeão de 1500 metros de atletismo, é considerado uma das 100 pessoas mais influentes do mundo, cobra 40 mil euros por conferência e lançou o seu livro: Outliers – a História do Sucesso. Mas se quer continuar a acreditar no mito do self-made man, que nasce pobre, trabalha horas a fio e, sem qualquer ajuda transforma-se num homem de sucesso, então é melhor não o ler. “Este tipo de explicações para o sucesso não funciona. As pessoas não se erguem do nada. O que verdadeiramente distingue as suas histórias não é um talento extraordinário, mas as extraordinárias oportunidades que tiveram”, defende.
Einstein tinha um quociente de inteligência (QI) de 150. Chris Langan, que ficou conhecido como o americano com um QI mais elevado, chegou aos 195: começou a falar aos seis meses e a ler aos 3 anos, aos 5 questionava a existência de Deus e, na escola, tirava notas elevadas em testes de línguas estrangeiras que não conhecia - só precisava de estudar três minutos antes. Mas não foi lon­ge: perdeu uma bolsa de estudo, desistiu da faculdade e foi porteiro grande parte da vida. Para Gladwell, isto significa que um Q1 supe­rior a 120 não tem vantagens na vida real.
Fundamental é o conceito de "inteligência prática": "Saber o que dizer a quem, saber quando dizê-lo e saber como dizê-lo para ob­ter o máximo efeito". Esta capacidade depen­de, sobretudo, da família em que nascemos. Para Gladwell, as crianças de classe média e alta estão em vantagem: são expostas a mais experiências, aprendem a trabalhar em equipa e a interagir de maneira mais confortável com os adultos - Chris Langan cresceu numa fa­mília pobre, com um padrasto alcoólico.
ANA TABORDA, Sábado, 27-11-08 (adaptado)