21/02/09

IDEOLOGIAS

Raikes abanou a cabeça.
- Desculpe - disse ele - mas não acredito em si. É o de­tective privado do Blunt, sim senhor. - A sua expressão carre­gou-se quando ele se debruçou sobre a mesa. - Mas não conse­gue salvá-lo, sabe? Ele tem de marchar. .. ele é tudo o que ele representa! Tem de surgir uma nova ordem ... o velho e corrup­to sistema financeiro tem de desaparecer... esta maldita rede de banqueiros por todo o mundo, como uma teia de aranha. Têm de ser varridos do mapa. Pessoalmente não tenho nada contra o Blunt ... mas é o género de homem que odeio. É medíocre ... é presunçoso. É do tipo que só se consegue mover usando dinami­te. É o tipo de homem que diz: «Não se pode abalar os alicerces da civilização.» Mas não pode? Ele que espere e veja. É um obs­táculo ao Progresso e tem de ser afastado. No mundo de hoje não há lugar para homens como o Blunt ... homens que vivem pre­sos ao passado ... homens que querem viver como os pais deles, ou até como os avós! Não faltam homens assim aqui em Inglater­ra ... a velha guarda cheia de mofo ... símbolos inúteis e gastos de uma era em decadência. E têm de marchar, se têm! É preciso que nasça um mundo novo. Está a entender. .. um mundo novo, compreende?
Poirot suspirou e levantou-se.
- Vejo que é um idealista, Mr. Raikes - observou.
- E se for?
AGATHA CHRISTIE, O Enigma do Sapato