Porque há-de a arqueologia egípcia ser monopólio do secretário-geral do Conselho Superior de Antiguidades do Egipto, Zahi Hawass? Quer seja na rádio, na televisão ou nos jornais, tem o monopólio deste assunto e de tudo o que lhe possa estar relacionado, de perto ou de longe.
Seja a erosão da pirâmide de Saqqarah, a investigação do túmulo de Cleópatra e do seu amante Marco António, a descoberta dos despojos de um ministro de Ramsés ou a conservação dos restos de uma simples serva da rainha Nefertite, é Zahi Hawass que é chamado a falar. Mais ninguém (…).
É melhor do que Indiana Jones, Hércules, Super-Homem e Batman todos juntos. Não se contenta em falar em nome do Egipto, dos faraós, de reis e rainhas, está igualmente convencido de que detém a verdade.
A cada controvérsia, Hawass põe o seu capacete de cientista - ou antes, o seu chapéu de Indiana Jones - e profere certezas absolutas e indiscutíveis. Raros são os jornalistas que ousam produzir uma reportagem ou um documentário sobre o assunto sem o pôr a intervir pelo menos uma vez.
Seguro de si, emite as suas «fatwas» [sentenças de iluminação divina] arqueológicas e varre de uma assentada os pontos de vista dos outros: «Claro que não, estão todos enganados!», dita. Ou em inglês: «No, theyare wrong!». Outra alternativa: «Não dizem a verdade, de maneira alguma». Enquanto ele continua «absolutamente certo»!
A sua atitude está em total contradição com espírito científico. É o contrário da modéstia que caracteriza um verdadeiro investigador, que sabe que não há verdade absoluta. Egiptólogos do mundo inteiro - e são numerosos - nunca diriam «eu sei», antes «suponho». Não falam de «certeza», mas de «hipóteses». Esta prudência está muito mais de acordo com as ciências humanas e com o trabalho sobre objectos que têm milhares de anos. Mesmo nas ciências ditas puras, esta regra impõe-se. Não assistimos já a foguetões que explodiram em pleno voo?