08/06/09

LÍNGUA TRAIÇOEIRA

As línguas podem realmente ser muito traiçoeiras. Quando pela primeira vez alguém me disse, casualmente num encontro social nos Estados Unidos da América, que era muito anal, a minha reacção foi empalidecer, engolir em seco e perguntar: "Excuse me?" O contexto e as circunstâncias não eram de forma nenhuma sexuais, pelo que aquilo que soava a uma revelação intima pareceu-me, no mínimo, desadequada.
Para os nativos da língua inglesa, referências à analidade desse tipo nada têm de sexual. Referem-se tão-só a um tipo de personalidade, caracterizado por uma certa necessidade de organização, pela aceitação das regras estabeleci das e por um gosto pela limpeza.
Anal é quem cumpre todas as regras de trânsito e recrimina todos os que não o fazem. São aqueles cujas secretárias no trabalho estão sempre impecável e irritantemente organizadas. São os que nunca vão de férias sem ter uma relação das despesas e listas exaustivas dos locais a não perder.

NUNO NODIN, Pública, 14-12-08