No dia 7 de Outubro de 2001, pouco menos de um mês as seguir aos ataques ao World Trade Center e ao Pentágono, foi difundida no mundo inteiro uma declaração em videocassete de Osama Bin Laden a condenar as actividades dos “infiéis internacionais”. Essa mensagem revela bem a ligação entre forças violentas do fundamentalismo religioso e o quadro mais secular de um mundo tecnologicamente sofisticado e globalizante.
Como é que se pode afirmar que uma mensagem em videocassete de um fanático religioso a partir de uma caverna das montanhas do Afeganistão, que condena a modernidade e a ordem secular, demonstra perfeitamente a dinâmica da globalização? Para melhor ilustrar esta aparente contradição, considere-se a complexa cadeia de interdependências globais.
Depois de fazer o seu percurso desde as isoladas montanhas do Afeganistão, o vídeo foi deixado, por um correio desconhecido, no exterior dos escritórios em Cabul da rede de televisão Al-Jazeera. Esta rede tinha sido lançada apenas cinco anos antes. No espaço de apenas três anos, contudo, a Al-Jazeera já oferecia à sua audiência do Médio Oriente uma vertiginosa gama de programas, transmitidos por poderosos satélites colocados em órbita por foguetes europeus e vaivéns espaciais americanos. Em 2001, a companhia intensificou ainda mais o seu alcance global quando assinou um acordo de cooperação com a CNN.
Uns meses mais tarde, quando a atenção do mundo se voltou para a guerra no Afeganistão, a Al-Jazeera era suficientemente poderosa para alugar equipamento a Reuters e a cadeia ABC, vender tempo de satélite à Associated Press e à BBC e conceber um inovador canal de notícias sobre negócios em língua árabe, juntamente com o outro parceiro americano da rede, a CNBC.
Sem o estorvo de fronteiras nacionais e obstáculos geográficos, a cooperação entre estas tentaculares redes noticiosas tinha-se tornado tão eficiente que a CNN adquiriu e transmitiu uma cópia do vídeo de Osama bin Laden apenas algumas horas depois de ter sido entregue nos escritórios da Al-Jazeera em Cabul. Apanhada desprevenida pela incrível velocidade da troca de informações actual, a administração Bush pediu ao governo do Qatar para «pôr freio à Al-Jazeera», reivindicando que a rápida difusão do vídeo de bin Laden estava a contribuir para o aparecimento de sentimentos antiamericanos no mundo árabe ameaçando, assim, destruir o esforço dos Estados Unidos naquela guerra. Porém, não só o «estrago» pressentido já tinha sido feito, como segmentos do vídeo - incluindo o texto completo da declaração de bin Laden - podiam ser vistos na Internet por qualquer pessoa que tivesse acesso a um computador e um modem. O sítio da Al-Jazeera atraiu rapidamente um público internacional pois o número de visitantes diários da sua página subiu em flecha para mais de sete milhões.
Como é que se pode afirmar que uma mensagem em videocassete de um fanático religioso a partir de uma caverna das montanhas do Afeganistão, que condena a modernidade e a ordem secular, demonstra perfeitamente a dinâmica da globalização? Para melhor ilustrar esta aparente contradição, considere-se a complexa cadeia de interdependências globais.
Depois de fazer o seu percurso desde as isoladas montanhas do Afeganistão, o vídeo foi deixado, por um correio desconhecido, no exterior dos escritórios em Cabul da rede de televisão Al-Jazeera. Esta rede tinha sido lançada apenas cinco anos antes. No espaço de apenas três anos, contudo, a Al-Jazeera já oferecia à sua audiência do Médio Oriente uma vertiginosa gama de programas, transmitidos por poderosos satélites colocados em órbita por foguetes europeus e vaivéns espaciais americanos. Em 2001, a companhia intensificou ainda mais o seu alcance global quando assinou um acordo de cooperação com a CNN.
Uns meses mais tarde, quando a atenção do mundo se voltou para a guerra no Afeganistão, a Al-Jazeera era suficientemente poderosa para alugar equipamento a Reuters e a cadeia ABC, vender tempo de satélite à Associated Press e à BBC e conceber um inovador canal de notícias sobre negócios em língua árabe, juntamente com o outro parceiro americano da rede, a CNBC.
Sem o estorvo de fronteiras nacionais e obstáculos geográficos, a cooperação entre estas tentaculares redes noticiosas tinha-se tornado tão eficiente que a CNN adquiriu e transmitiu uma cópia do vídeo de Osama bin Laden apenas algumas horas depois de ter sido entregue nos escritórios da Al-Jazeera em Cabul. Apanhada desprevenida pela incrível velocidade da troca de informações actual, a administração Bush pediu ao governo do Qatar para «pôr freio à Al-Jazeera», reivindicando que a rápida difusão do vídeo de bin Laden estava a contribuir para o aparecimento de sentimentos antiamericanos no mundo árabe ameaçando, assim, destruir o esforço dos Estados Unidos naquela guerra. Porém, não só o «estrago» pressentido já tinha sido feito, como segmentos do vídeo - incluindo o texto completo da declaração de bin Laden - podiam ser vistos na Internet por qualquer pessoa que tivesse acesso a um computador e um modem. O sítio da Al-Jazeera atraiu rapidamente um público internacional pois o número de visitantes diários da sua página subiu em flecha para mais de sete milhões.
Os partidários do antimodernismo têm de recorrer aos instrumentos fornecidos pela globalização. O que é visível até mesmo no aspecto pessoal de bin Laden. O vídeo mostra que ele envergava, por cima das tradicionais vestes árabes, um casaco camuflado cujas cores claras traíam as suas origens russas, sugerindo que ele vestia esse casaco como uma lembrança simbólica da guerrilha travada pelos militantes islâmicos do Afeganistão contra os ocupantes soviéticos durante a década de 9O. A sua sempre presente Kalashnikov AK-47 era provavelmente de fabrico russo ou de uma das dezenas de fábricas de armamento espalhadas pelo mundo. É também possível que a arma tivesse chegado ao Afeganistão através de algum negócio de armas subterrâneo semelhante àquele que foi descoberto em Maio de 1996, quando a polícia de São Francisco apreendeu 2.000 AK-47 fabricadas na China e importadas ilegalmente. Um olhar atento ao pulso direito de bin Laden revela ainda outro indício da dinâmica da globalização. Enquanto ele dirige as suas palavras de desprezo aos Estados Unidos e seus aliados com o microfone na mão, a manga ligeiramente subida deixa ver um relógio desportivo e o consenso aponta para um produto Timex. No entanto, dado que os relógios Timex são tão americanos como a tarte de maçã, parece uma grande ironia que o líder da Al Qaeda tivesse escolhido esse cronómetro específico.
A nossa breve desconstrução de algumas das principais imagens da videocassete torna mais fácil perceber por que razão as aparentemente anacrónicas imagens de um terrorista antimodernização em frente de uma gruta no Afeganistão captam, de facto, um pouco da dinâmica essencial da globalização.
A nossa breve desconstrução de algumas das principais imagens da videocassete torna mais fácil perceber por que razão as aparentemente anacrónicas imagens de um terrorista antimodernização em frente de uma gruta no Afeganistão captam, de facto, um pouco da dinâmica essencial da globalização.
MANFRED B. STEGER, A Globalização (adaptado)