26/03/09

"DESCONSTRUIR" OSAMA BIN LADEN

No dia 7 de Outubro de 2001, pouco menos de um mês as seguir aos ataques ao World Trade Center e ao Pentágono, foi difundida no mundo inteiro uma declaração em videocassete de Osama Bin Laden a condenar as actividades dos “infiéis internacionais”. Essa mensagem revela bem a ligação entre forças violentas do fundamentalismo religioso e o quadro mais secular de um mundo tecnologicamente sofisticado e globalizante.
Como é que se pode afirmar que uma mensagem em videocassete de um fanático religioso a partir de uma caverna das montanhas do Afeganistão, que condena a modernidade e a ordem secular, demonstra perfeitamente a dinâmica da globalização? Para melhor ilustrar esta aparente contradição, considere-se a com­plexa cadeia de interdependências globais.
Depois de fazer o seu percurso desde as isoladas montanhas do Afeganistão, o vídeo foi deixado, por um correio desconhecido, no exterior dos escritórios em Cabul da rede de televisão Al-Jazeera. Esta rede tinha sido lançada apenas cinco anos antes. No espaço de apenas três anos, contudo, a Al-Jazeera já oferecia à sua audiência do Médio Oriente uma ver­tiginosa gama de programas, transmitidos por poderosos satélites colocados em órbita por foguetes euro­peus e vaivéns espaciais americanos. Em 2001, a companhia intensificou ainda mais o seu alcance global quando assinou um acordo de cooperação com a CNN.
Uns meses mais tarde, quando a atenção do mundo se voltou para a guerra no Afeganistão, a Al-Jazeera era suficientemente poderosa para alugar equipamento a Reuters e a cadeia ABC, vender tempo de satélite à Associated Press e à BBC e conceber um inovador canal de notícias sobre negócios em língua árabe, juntamente com o outro parceiro americano da rede, a CNBC.
Sem o estorvo de fronteiras nacionais e obstáculos geográficos, a coo­peração entre estas tentaculares redes noticiosas tinha-se tornado tão eficiente que a CNN adquiriu e transmitiu uma cópia do vídeo de Osama bin Laden apenas algumas horas depois de ter sido entregue nos escri­tórios da Al-Jazeera em Cabul. Apanhada desprevenida pela incrível velocidade da troca de informações actual, a administração Bush pediu ao governo do Qatar para «pôr freio à Al-Jazeera», reivindicando que a rápida difusão do vídeo de bin Laden estava a con­tribuir para o aparecimento de sentimentos antiamericanos no mundo árabe ameaçando, assim, destruir o esforço dos Estados Unidos naquela guerra. Porém, não só o «estrago» pressentido já tinha sido feito, como segmentos do vídeo - incluindo o texto completo da declaração de bin Laden - podiam ser vistos na Internet por qualquer pessoa que tivesse acesso a um computador e um modem. O sítio da Al-Jazeera atraiu rapi­damente um público internacional pois o número de visitantes diários da sua página subiu em flecha para mais de sete milhões.
Os partidários do antimodernismo têm de recorrer aos instrumentos fornecidos pela globali­zação. O que é visível até mesmo no aspecto pessoal de bin Laden. O vídeo mostra que ele envergava, por cima das tradicionais vestes árabes, um casaco camuflado cujas cores claras traíam as suas origens russas, sugerindo que ele vestia esse casaco como uma lembrança simbólica da guerrilha travada pelos militantes islâmicos do Afeganistão contra os ocupantes soviéticos durante a década de 9O. A sua sempre presente Kalashnikov AK-47 era provavelmente de fabrico russo ou de uma das dezenas de fábricas de armamento espalhadas pelo mundo. É também possível que a arma tivesse chegado ao Afeganistão através de algum negócio de armas subterrâneo seme­lhante àquele que foi descoberto em Maio de 1996, quando a polícia de São Francisco apreendeu 2.000 AK-47 fabricadas na China e importa­das ilegalmente. Um olhar atento ao pulso direito de bin Laden revela ainda outro indício da dinâmica da globalização. Enquanto ele dirige as suas palavras de desprezo aos Estados Unidos e seus aliados com o microfone na mão, a manga ligeiramente subida deixa ver um reló­gio desportivo e o consenso aponta para um produto Timex. No entanto, dado que os relógios Timex são tão americanos como a tarte de maçã, parece uma grande ironia que o líder da Al Qaeda tivesse escolhido esse cronómetro específico.
A nossa breve desconstrução de algumas das principais imagens da videocassete torna mais fácil perceber por que razão as aparentemente anacrónicas imagens de um terrorista antimodernização em frente de uma gruta no Afeganistão captam, de facto, um pouco da dinâmica essencial da globalização.

20/03/09

FAVELAS DOS RICOS

Um estudo realizado em Braga por técnicos da Universidade do Minho mostra que existem, cada vez mais, ‘favelas dos ricos’; bairros de casas de luxo, sem relações de vizinhança e sem participação na vida social, disse à Lusa um dos responsáveis pela investigação.
«São casas construídas nas encostas de montes, com vista sobre as cidades, mas totalmente voltadas para o interior e para a privacidade», referiu Miguel Bandeira, geógrafo e um dos autores do estudo sobre as «favelas dos ricos».
As favelas dos ricos são vivendas unifamiliares, com uma média de 350 metros quadrados de construção e onde vivem, em média, três pessoas.
O estudo, que ainda não terminou, está a ser elaborado por Miguel Bandeira, geógrafo, Carlos Veiga, soci­ólogo e Patrícia Veiga, arquitecta, todos do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho.
(…) «Tendo por exemplo as favelas do Brasil, em Braga, temos encostas cheias de casas de luxo, construídas para dar segurança e privacidade a quem lá vive», referiu o sociólogo.
«São áreas do extinto mundo rural, onde os socalcos usados para a agricultura foram transformados em lotes de construção de vivendas de alta qualidade e onde os caminhos rurais foram alcatroados», explicou Miguel Bandeira.

Moradores de bairros de luxo, "ignoram" actividades e equipamentos da localidade onde vivem, disse à Lusa a tesoureira da junta de freguesia de Lamaçães.
A Serra de Espinho, entre os santuários do Sameiro e do Bom Jesus, pertence, entre outras, às freguesias de Lamaçães e Nogueiró.
Na encosta da serra, com vista para a cidade de Braga, nos últimos dez anos, foram construídas centenas de moradias de luxo.
«As famílias vivem em Lamaçães mas é como se não vivessem», disse Virgínia Esteves, tesoureira da junta de freguesia local. «Não estão recenseados aqui, as crianças não frequentam o centro escolar público, não frequentam a catequese da paróquia e as famílias não vão à missa da freguesia», salientou a mesma fonte.
Sem moradias à venda, a vida na encosta da Serra de Espinho, parece pacífica. Às 15hOO de um dia de semana, quando se toca à campainha, é a empregada que responde. Mulheres de países de Leste, brasileiras e portuguesas, as empregadas limitam-se a dizer que «os senhores não estão em casa» e que não sabem a que horas voltam.
Durante o dia, a 'favela' é um local com ruas vazias, sem automóveis e com muito sossego. «A ideia que dá é que os vizinhos nem se conhecem. Cada um tem a sua piscina, o seu terraço, quem tem crianças, instala um parque infantil no jardim e vivem dentro do seu lote de terreno», referiu uma empregada doméstica. «Eu só conheço as minhas colegas de as ver a colocar o lixo na rua e pouco mais mas olhe que as famílias são felizes aqui», salientou.
Lamaçães é uma freguesia «modelo» para os técnicos da Universidade do Minho. «Existem três tipos de habitantes: Os que vivem nas casas originais do mundo rural, que têm as crianças na escola local e que fazem a vida na freguesia. Há as famílias que residem em moradias em banda e que "fogem" aos apartamentos da cidade e há os que vivem nas moradias construídas nos antigos terrenos de cultivo. São estes os habitantes daquilo a que chamamos favelas», explicou Carlos Veiga.
in DIÁRIO DO MINHO, 09-03-09

08/03/09

DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Neste dia [8 de Março], do ano de 1857, as operárias têxteis de uma fábrica de Nova Iorque entraram em greve, ocupando a fábrica, para reivindicarem a redução de um horário de mais de 16 horas por dia para 10 horas. Estas operárias que, nas suas 16 horas, recebiam menos de um terço do salário dos homens, foram fechadas na fábrica onde, entretanto, se declarara um incêndio, e cerca de 130 mulheres morreram queimadas. Em 1910, numa conferência internacional de mulheres realizada na Dinamarca, foi decidido, em homenagem àquelas mulheres, comemorar o 8 de Março como "Dia Internacional da Mulher". De então para cá o movimento a favor da emancipação da mulher tem tomado forma, tanto em Portugal como no resto do mundo.

07/03/09

ADOLESCENTES VICIADOS EM SMS

“Não conseguia”. É assim que Leonor Silva, 18 anos e utilizadora de telemóvel desde os 14, descreve como seria o cenário de 24 horas sem o aparelho.
Leonor não está isolada no que diz respeito ao “vício” dos SMS. Em Maio de 2007, Pedro Quelhas Brito, um professor da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, juntou 207 voluntários de quatro escolas desta cidade, dividiu-os em dois grupos, pré-adolescentes de 11 e 12 anos e adolescentes de 15 e 16 anos e concluiu que os primeiros enviavam uma média de 84,2 SMS por semana e os segundos, 235,6. Ao final do mês, os mais velhos remetiam assim cerca de mil mensagens.
“Entre as várias justificações, disseram-me que o fazem porque é mais barato, rápido, impessoal e podem escrever com uma terminologia que entendem. Um ou outro responderam que era útil para ‘bullying’”, recorda ao METRO. “É discreto e podem controlar o momento em que enviam e respondem às mensagens”, diz. Esta dependência dos SMS é potenciada pelos tarifários das operadoras, que oferecem mensagens escritas de borla. Uma rapariga norte-americana de 13 anos no último mês, enviou 14 258 mensagens de texto. Quando o pai da jovem abriu a factura mensal, de 440 páginas e no valor de dois mil dólares, pensou que se tratasse de um engano da operadora. Não era. Pegou numa calculadora e descobriu que, descontando as horas de sono, a sua filha, Reina, tinha escrito, em média, um SMS a cada dois minutos.
Na opinião a psicóloga Teresa Paula Marques, “tudo o que é excessivo cai no campo do patológico e a dependência dos SMS não foge a essa regra”. “Se o jovem passa a privilegiar o seu uso em detrimento dos contactos pessoais, acaba por não aprender a dar-se com os outros”, defende. Também para a psicóloga Susana Gonçalves, este comportamento, que se pode tornar “compulsivo”, é preocupante. Nas suas consultas, depara-se com pais apreensivos por verem os filhos quase sempre agarrados aos telemóveis. E também com casos de jovens em que o vício interfere nos estudos. “Há crianças que não dormem sem o telemóvel ao lado, e se se esquecem dele, é um drama”.
E porque o excesso de comunicação via SMS — ou Messenger, frisa a psicóloga — pode promover o isolamento dos adolescentes e minar o desempenho escolar, Susana Gonçalves aconselha os pais a “passarem tempo de qualidade com os filhos e a aprenderem a comunicar”.
ANDRÉ BARBOSA, Metro, 14-01-09 (adaptado)