31/10/08

MONITORIZAR A GRIPE COM A PATICIPAÇÃO DE TODOS

"A ideia de monitorizar a epidemia sazonal de gripe, utilizando a Internet e com base na participação voluntária dos cidadãos, nasceu na Holanda, em 2003. Rapidamente constitui-se num caso de sucesso de comunicação de ciência e de promoção da saúde. O projecto holandês, entretanto alargado à Bélgica que fala flamengo, motivou investigadores do Instituto Gulbenkian de Ciência a encetar uma colaboração internacional que veio dar lugar, em 2005, ao Gripenet português.
Acompanhando a actividade esperada da gripe, o Gripenet recolhe dados de Novembro a Maio. É com base nesses dados, recolhidos em questionários on-line, que é feita a monitorização da epidemia sazonal. Contudo, o site de suporte ao projecto está activo durante todo o ano, de forma a fornecer informação sobre a doença e as temáticas com ela envolvidas. O site www.gripenet.pt é o maior repositório de conteúdos on-line em língua portuguesa sobre a gripe.
Todos podem participar na monitorização Gripenet. Basta residirem território nacional e possuir endereço de correio electrónico. (para se registar aqui no site da
gripenet)
Depois de se registarem no site, os participantes recebem semanalmente uma newsletter com curiosidades e notícias sobre a gripe e são convidados a preencher, em alguns segundos, um pequeno questionário sobre os sintomas gripais (ou ausência deles) da semana anterior. A recolha de dados tem por objectivo monitorizar, em tempo real, a evolução da epidemia.
Desta forma, qualquer cidadão pode contribuir com informação pertinente para o desenvolvimento de modelos epidemiológicos sobre a gripe.
Esta informação não concorre com a que é obtida pelos métodos de vigilância das entidades de saúde, a cargo do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge. Tratam-se de metodologias e amostras diferentes, susceptíveis, isso sim, de se complementarem, para um melhor retrato da gripe em Portugal. Por isso, desde a primeira hora, o Gripenet tem contado com a colaboração daquele Instituto e da Direcção-Geral de Saúde.
Os dados são analisados por investigadores do IGC e a informação fica disponibilizada no site (curvas de incidência, projecção geo-referenciada em mapas de diferentes escalas, bases de dados para fins de investigação, etc.) Este trabalho é acompanhado pelo desenvolvimento de modelos matemáticos e plataformas computacionais com capacidade para simular a propagação da gripe em Portugal e avaliar cenários de intervenção.

O projecto Gripenet é financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian e pelo mecenato científico. Participa activamente na construção de uma rede europeia de monitorização da gripe através da Internet."

Apresentação da gripnet

26/10/08

VÉNUS E MARTE (Sandro Botticelli)

A deusa do amor, Vénus, venceu Marte, o deus da guerra e da violência: enquanto ele está mergulhado num sono profundo, ela observa-o com atenção e segurança para o manter sob controlo.
Se procurarmos o significado profundo da imagem, parece que o seu autor, Sandro Botticelli (1445-1510), quis representar a ideia do amor que havia sido desenvolvida na corte dos Médicis pelo filósofo Marsílio Ficino e que concebia esse amor como uma dualidade composta por um desejo físico terreno e por uma aspiração espiritual que tendia para Deus. Ficino descrevia a diligência humana como o esforço constante para passar da paixão sensual ao desejo espiritualizado do conhecimento e de luz na união com Deus.
O quadro ilustra o triunfo da deusa do amor sobre o deus da guerra, que ela desviou dos seus afazeres bélicos. Mas não se trata tanto da vitória do amor sobre a violência guerreira, como a derrota do desejo sensual perante um amor de Deus guiado pelo desejo de saber. Marte simboliza aqui, enquanto deus da guerra, o desejo violento. Contrariamente a Vénus, ele surge representado quase nú. Em Vénus, pelo contrário, esta aspiração sensual foi superada. Ela está vestida com um peplo debruado e preso no peito por uma jóia composta por pérolas, onde se deve ler o símbolo da castidade.
BARBARA DEIMLING, Botticelli, Editora Taschen (adaptado)

22/10/08

SOBRE MACACOS E BANANAS

Suponhamos que temos seis macacos numa sala. Do tecto pende um cacho de bananas. Mesmo por baixo encontra-se um escadote (como o de um pintor ou carpinteiro). Não é preciso passar muito tempo até que um dos macacos suba o escadote para alcançar as bananas.
E assim se inicia a experiência: no preciso momento em que toca no escadote, todos os macacos são molhados com água gelada. Como é natural, isso detém o macaco. Passado um bocado, o mesmo macaco, ou algum dos outros, faz nova tentativa com o mesmo resultado: todos os macacos apanham com a água gelada assim que um deles toque no escadote. Quando este
processo se repete mais um par de vezes, os macacos já estão prevenidos. Mal algum deles pretende tentar, os outros tratam de evitar que o faça, detendo-o com pancada se necessário.
Uma vez chegados a este estádio, retiramos um dos macacos da divisão e substituímo-lo por um novo (que obviamente não participou na experiência até aí). O novo macaco vê as bananas e trata imediatamente de subir pelo escadote. Para seu horror, todos os outros macacos o atacam. E claro que o impedem. Depois de mais um par de tentativas, o novo macaco já aprendeu: se tenta subir pelo escadote, vão agredi-lo sem piedade.
O procedimento é de seguida repetido: retira-se um segundo macaco e introduz-se outro novo. O recém-chegado encaminha-se para o escadote e o processo repete-se: mal lhe toca (no escadote), é massivamente atacado. E não é só isso: o macaco que tinha entrado imediatmente antes dele ( e que nunca passara pela experiência da água gelada!) participa no episódio de violência com grande entusiasmo. Um terceiro macaco é substituído e mal tenta subir o escadote, os outros agridem-no. Todavia, dois dos macacos que lhe batem não fazem ideia do motivo porque não se pode subir o escadote. Substitui-se um querto macaco, depois o quinto e, por fim, o sexto que nesta altura era o único que restava do grupo original. Ao tirar-se este de lá, não resta nenhum que tenha sofrido o banho de água gelada. No entanto, tendo o último tentado subir um par de vezes e sendo furiosamente golpeado pelos outros cinco, fica estabelecida a regra: Não se pode subir o escadote. Quem o fizer expõe-se a uma repressão brutal. Só que agora nenhum dos seis tem argumentos para justificar tal barbaridade.
Qualquer semelhança com a realidade dos seres humano não é pura coincidência nem fruto do acaso. É que somos mesmo assim: como os macacos

17/10/08

NO SUBCONSCIENTE, OS AMERICANOS VÊEM OBAMA COMO ESTRANGEIRO?

O preconceito é subtil, mas estudos mostram que americanos brancos demoram a identificar americanos negros ou asiáticos com símbolos do país
Há alguns anos, os psicólogos Mahzarin Banaji e Thierry Devos mostraram os nomes de celebridades a um grupo de voluntários, pedindo-lhes que as classificassem como americanos ou não americanos. A lista incluía a jornalista televisiva Connie Chung ou a estrela do ténis Michael Chang, ambos americanos de origem asiática, bem como os actores britânicos Hugh Grant e Elizabeth Hurley. Os voluntários identificaram naturalmente os primeiros como norte-americanos e os segundos como estrangeiros.
Os psicólogos perguntaram depois ao grupo que nomes associava a ícones americanos como a bandeira, o Capitólio ou o Monte Rushmore, e quais associava a símbolos estrangeiros: o edifício da ONU em Genebra, uma nota de 100 hrivnis da Ucrânia e um mapa do Luxemburgo. E descobriram que, se tivessem de responder depressa, os voluntários associavam muito mais facilmente os símbolos americanos aos actores britânicos e os estrangeiros a Chung ou Chang.
Os resultados sugerem que, a um nível subconsciente, as pessoas equiparavam os brancos - mesmo os estrangeiros - com símbolos americanos.
Noutra experiência envolvendo atletas negros nos Jogos Olímpicos de Sydney, os psicólogos verificaram que o mesmo padrão se aplicava aos afro-americanos.
Os voluntários brancos concordavam que os saltadores Allen Johnson e Angelo Taylor, que ganharam medalhas de ouro, "contribuíram para a glória da América" e "representam tudo o que a América é". Mas foram lentos a associar as suas fotografias a símbolos americanos. Os voluntários negros foram mais rápidos a associar atletas negras ou brancos a símbolos americanos.
"Isto é poderoso porque mostra que as nossas mentes também distorcem os factos, além das preferências", diz Banaji, que trabalha em Harvard. "Os afro-americanos consideram-se americanos, mas isso não é assim nas mentes de todos os brancos."
As experiências (baseadas em testes disponíveis em implicit.harvard.edu) provocaram controvérsia. Pode ser um embaraço para as pessoas saber que subconscientemente associam ser americano com ser branco, mas isso importa? Importa e muito - por exemplo, no comportamento eleitoral, dizem os investigadores.
Numa série de novas experiências, Devos mostrou que o preconceito "branco equivale a americano" pode ter um papel fundamental nas presidenciais (Banaji é democrata registada; Devos não é americano).
Durante as primárias, Devos, na Universidade de San Diego, e Debbie Ma, da Universidade de Chicago, descobriram que, ao nível subconsciente, as pessoas associavam mais facilmente Hillary Clinton com "ser americana" do que Barack Obama.
Mais surpreendente, os psicólogos descobriram que os voluntários eram mais rápidos a associar o antigo primeiro-ministro britânico Tony Blair com ser americano do que Obama.
A um nível consciente, os participantes não tiveram problemas em identificar Obama e Clinton como americanos e Blair como estrangeiro. Mas as associações subconscientes eram importantes: quem demorava mais tempo a ver Obama como americano a um nível subconsciente tinha menos probabilidades de pensar votar nele do que os que o associavam facilmente com símbolos americanos.
E num último conjunto de experiências, que acabou na semana passada, os investigadores dizem ter encontrado um padrão idêntico quando comparavam as associações subconscientes sobre Obama e o seu rival, John McCain
Conscientemente, os voluntários diziam que ambos são americanos, mas num nível subconsciente eram mais rápidos a associar McCain com ser americano do que Obama - e a força destas associações reflectia-se nas predisposições de voto. "Quando menos viam Obama como americano comparado com McCain, menos provável era que votassem nele", explica Devos. O preconceito era subtil - e apenas um entre muitos factores pesados nas escolhas de voto - mas também conta.


SHANKAR VEDANTAM , Público, 16.10.2008