Saio para a rua e descubro que a cara de Ronaldo está em todos os jornais: um rosto vulgar, adiposo, deslumbrado - e o cabelo em forma de crista galinácea, uma agressão estética que faz sucesso entre os lusitanos. Parece que o mundo andou a discutir seriamente se Ronaldo era o melhor jogador de futebol. E respondeu que sim. A ideia já é suficientemente infantil para merecer comentário: centenas de adultos, mergulhados em reflexão aturada, em busca das chuteiras geniais.
Mas, com Ronaldo, Portugal relembrou também um aspecto da história pátria: a forma como nacionalizamos feitos individuais par efeitos de propaganda patriótica. Durante 48 anos, não houve atleta, cantor ou artista que a ditadura não tenha usado como símbolo colectivo.
Mas, com Ronaldo, Portugal relembrou também um aspecto da história pátria: a forma como nacionalizamos feitos individuais par efeitos de propaganda patriótica. Durante 48 anos, não houve atleta, cantor ou artista que a ditadura não tenha usado como símbolo colectivo.
Veio a democracia. Mas, com ela, não veio a atitude saudável de conceder aos indivíduos o que apenas lhes pertence por talento, sorte ou trabalho. O 25 de Abril, pelos vistos, não passou por aqui.
J.P. COUTINHO, Revista Única, 24-01-09 (adaptado)