O que é o enamoramento? É o estado nascente de um movimento colectivo a dois. Esta definição coloca o problema do enamoramento de um modo novo, segundo uma óptica diferente daquela que nos foi transmitida pela psicologia, pela sociologia e pela própria arte. O enamoramento não é um fenómeno quotidiano, uma sublimação da sexualidade ou um capricho da imaginação, nem tão-pouco um sentimento sui generis inefável, divino ou diabólico, antes pode ser inserido numa classe de fenómenos já conhecidos, os movimentos colectivos. Entre estes tem certamente a sua individualidade muito própria, isto é, não pode ser confundido com outros tipos de movimentos colectivos, como a reforma protestante, o movimento estudantil, ou o feminista. Contudo, entre estes e o enamoramento há um parentesco muito próximo, as forças que se libertam e que actuam são do mesmo tipo, muitas das experiências de solidariedade, alegria de viver, renovação, são análogas. A diferença fundamental está no facto de os grandes movimentos colectivos serem constituídos por muitíssimas pessoas e estarem abertos ao ingresso de outras mais. Contrariamente, o enamoramento, sendo embora um movimento colectivo, nasce apenas entre duas pessoas, e o seu horizonte de dependência, qualquer que seja o valor universal que possa desencadear, está vinculado ao facto de ser completo com duas únicas pessoas.
Durkheim, falando dos estados de efervescência colectiva, escreve: «O homem tem a impressão ser 'dominado por forças que não reconhece como suas, que arrastam, que ele não domina. Sente-se transportado a um mundo diferente daquele em que decorre a sua existência privada. A vida aqui não é somente intensa, mas qualitativamente diferente. Ele desinteressa-se, esquece-se de si próprio, dá-se inteiramente aos fins comuns. Esta vida superior é vivida com tão forte intensidade e de forma de tal modo exclusiva que ocupa quase completamente as consciências, das quais afasta mais ou menos completamente as preocupações egoísticas e vulgares». Durkheim, quando escreveu estas palavras, não pensava minimamente no enamoramento, tinha em mente a Revolução Francesa e outros grandes episódios revolucionários. Na realidade, a experiência que descreve é muito mais prolixa. Encontramo-la nos grandes processos históricos, como a Revolução Francesa, o desenvolvimento do cristianismo ou do Islão, mas também em outros movimentos de pequenas dimensões. Todos os movimentos colectivos, na sua fase inicial, têm estas características. O facto curioso é que as palavras de Durkheim possam ser aplicadas também ao enamoramento.
Durkheim, falando dos estados de efervescência colectiva, escreve: «O homem tem a impressão ser 'dominado por forças que não reconhece como suas, que arrastam, que ele não domina. Sente-se transportado a um mundo diferente daquele em que decorre a sua existência privada. A vida aqui não é somente intensa, mas qualitativamente diferente. Ele desinteressa-se, esquece-se de si próprio, dá-se inteiramente aos fins comuns. Esta vida superior é vivida com tão forte intensidade e de forma de tal modo exclusiva que ocupa quase completamente as consciências, das quais afasta mais ou menos completamente as preocupações egoísticas e vulgares». Durkheim, quando escreveu estas palavras, não pensava minimamente no enamoramento, tinha em mente a Revolução Francesa e outros grandes episódios revolucionários. Na realidade, a experiência que descreve é muito mais prolixa. Encontramo-la nos grandes processos históricos, como a Revolução Francesa, o desenvolvimento do cristianismo ou do Islão, mas também em outros movimentos de pequenas dimensões. Todos os movimentos colectivos, na sua fase inicial, têm estas características. O facto curioso é que as palavras de Durkheim possam ser aplicadas também ao enamoramento.
FRANCESCO ALBERONI, Enamoramento e Amor