(…) as palavras da linguagem comum, tal como os conceitos que elas exprimem, são sempre ambíguas e o seu directo emprego científico, a partir do seu uso normal, sem as submeter a nenhuma transformação, conduziria às mais graves confusões. Não apenas o sentido dessas palavras está tão mal definido que varia dum caso para o outro, ao sabor das necessidades, mas ainda, visto que a classificação de que elas resultam não procede de uma análise metódica e apenas traduz as impressões confusas das pessoas, acontece permanentemente que categorias de factos muito diversos são indistintamente reunidas sob uma mesma rubrica ou que realidades da mesma natureza recebem designações muito diferentes. Se portanto se aceita a acepção vulgar, corre-se o risco de distinguir o que deve ser confundido ou de confundir o que deve ser distinguido, ignorando-se assim o real parentesco das coisas e, consequentemente, a respectiva natureza. Só se explica comparando. Uma investigação científica só pode, assim, atingir o seu objectivo se se refere a factos comparáveis e tem tanto mais probabilidades de êxito quanto mais certa esteja de reunir todos aqueles que podem ser utilmente comparados. As afinidades naturais dos seres, porém, não poderão ser detectadas com um mínimo de segurança através de exame superficial como aquele de que a terminologia vulgar resultou; consequentemente, o objecto das pesquisas não pode ser constituído pelos grupos de factos já organizados aos quais correspondem as palavras da língua corrente.
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