09/11/08

OS PERIGOS DA TV NO BERÇO

Cresce a controvérsia em redor dos novos canais televisivos destinados a crianças dos 6 meses aos 3 anos. Especialistas fazem o ponto da situação e aconselham prudência em relação aos programas que supostamente desenvolvem a atenção dos mais pequenos.
É difícil, para um adulto, apreciar este universo doce, cheio de bichos garridos, onde soam guizos e realejos. Espanta-nos o grande número de emissões sem palavras nem frases, apenas pontuadas por «buuuu» e «iupiii». É mesmo necessário falar sem nexo com os bebés?
Outros programas propõem-se ensinar palavras, reconhecer animais, contar, brincar. Mas brincar, como aprender, implica trocas, contacto. A maioria destas séries educativas pressupõe pais presentes que estimulam os bebés e os ajudam a entender. O que acontece quando nenhum adulto está com eles? Pois, as crianças ficam empantur­radas em imagens.
A formação da inteligência, nesta idade em que o cérebro se organiza, estrutura e forma categorias, exige actividade física. Dos 6 meses aos 3 anos, é a idade da atenção ao real próximo, da exploração do mundo, da aquisição da linguagem e dos primeiros gestos operacionais. Não iremos fabricar «bebés-zombies»?
Outro argumento resulta de estudos que demonstram que os mais pe­quenos só desenvolvem a capacidade de dis­cernimento e a compreensão quando têm oportunidade de «agir sobre a realidade», manipular, tocar, provar, experimentar. Faz-lhes falta encontrar resistência, sentir prazer, dor, malogros, êxitos. Instalá-los muito tempo diante de um ecrã reduz «o sentimento de poder agir», correndo-se o risco «de os enquistar num estatuto de espectador do mundo» antes mesmo de se tornar seu actor - e sem estar a ser intelectualmente preparado para o confronto com a realidade.
Poderão existir seis perigos essenciais as­sociados aos canais para bebés: criação de dependência, travão ao desenvolvimento intelectual e emocional, isolamento afectivo, disfunções da linguagem, perturbações da concentração. O psiquiatra Serge Tisseron leva mais longe esta crítica, e a sua inquietação podia resumir-se assim: nada temos contra o vinho; mas dávamos um copo de tinto a um bebé? Expô-lo, tão jovem, ao fluxo constante de um televisor, sem que possa escapar-lhe, é correr o risco de lhe alterar o cérebro. «É preciso ver as crianças pequenas diante da TV. São atraídas pelas imagens, as músicas, os gritos. Esticam os braços, tentam tocar no ecrã, seguram-se com força, para tentarem apanhar qualquer coisa. Procuram o contacto, a realidade... Os ecrãs frustram-nas. As fieiras de bolas ou um jogo de construção dão-lhes mais prazer. Podem agarrar, apalpar. É mais lúdico, mais estruturante para o espírito.»
F.Joignot, L Monde (Paris), 12-07-08 (adaptado)